Padre Antonio da Silva Ferreira, pedagogo, professor e autor de diversos livros nas áreas pedagógica e de salesianidade, escreveu em 2011 e 2012 uma série de artigos sobre a história e a vida de Dom Bosco. Neste quinto artigo, padre Ferreira trata da vocação missionária da Congregação e do incentivo dado por seu fundador aos primeiros missionários.

Dom Bosco tinha como norma fundamental de seu agir buscar a glória de Deus e a salvação das almas. O lançar-se na empresa das missões nascia, portanto, como consequência natural dessa maneira de pensar. Além do mais, como diz Pietro Braido, Dom Bosco preocupava-se explicitamente com o fato de que “a instituição, a Congregação, podia correr risco de apagamento e de fossilização caso não se lançasse em novos objetivos, perigo que, segundo sua doutrina espiritual, corria todo caminho de aperfeiçoamento moral e religioso que parasse na satisfação de objetivos já alcançados” (cf. Pietro BRAIDO, Dom Bosco: Padre dos jovens no século da liberdade, II, p. 129).

O biógrafo de Dom Bosco nos diz que quando estava em Chieri, ainda como estudante, as Lettere edificanti publicadas pela Obra para a propagação da Fé, de Lião, França, eram lidas com avidez. Através dessa leitura, o jovem João Bosco teve, talvez, a primeira ideia de partir para as missões. Tal interesse continuou no seminário.

Também no Colégio Eclesiástico ele se entusiasmou por essa idéia e inclusive começou a estudar línguas para preparar-se para ser missionário. Mas o padre Cafasso o dissuadiu disso, fazendo ver que era claro que Deus queria que ele trabalhasse com os jovens pobres e abandonados de Turim, como já começara a fazer.

Fundada a Congregação Salesiana, por ocasião do Concílio Vaticano I começaram a chegar a Dom Bosco pedidos para que fundasse obras salesianas em diversas partes do mundo. Entre elas uma para o Cairo e, posteriormente, para a África Central, a pedido de Daniel Comboni, grande missionário na África. Interessa conhecer as grandes linhas do plano deste para a evangelização da África, pois as primeiras missões salesianas fundadas na América imitaram um pouco esse plano: não começar com missões diretamente nas aldeias, mas abrir colégios ou outras obras na periferia do território. Uma vez consolidadas essas obras, os mesmos africanos por elas evangelizados serviriam de apoio para a evangelização nas aldeias. No Brasil, ao serem planejadas as missões do Mato Grosso, desde o início Dom Lasagna estabeleceu colégio e paróquia em Cuiabá.

Rumo à Argentina

Dom Bosco, ao analisar esses pedidos, preocupava-se também com o problema da emigração italiana. Mas o que teve real influência em sua decisão foi o sonho sobre a Patagônia, tido em 1871 ou 1872. Estava em uma grande planície, em cujas extremidades se encontravam montanhas Nela havia turbas de homens de aspecto feroz que a percorriam caçando animais ou combatendo contra soldados. Vieram missionários que tentaram, sem êxito, converter aquelas tribos. Finalmente vieram os salesianos, precedidos por um grupo de jovenzinhos. E foram bem recebidos pelos indígenas. Procurou conhecer quem eram os homens a quem seus missionários se dirigiam no sonho. Foi o encontro com o cônsul argentino em Savona, Giovanni Battista Gazzolo, que lhe esclareceu tratar-se de indígenas da

Patagônia. Tomada a resolução de mandar seus missionários para a Argentina, Dom Bosco assumiu pessoalmente para si as responsabilidades e as tarefas da grande iniciativa transoceânica: a escolha, preparação e organização da primeira expedição e das outras que se seguiram imediatamente; a implantação, a busca e o fornecimento do pessoal, a incessante procura dos recursos financeiros indispensáveis.

Campo missionário

A escolha dos salesianos e a respectiva preparação mereceram, de fato, atenção especial de Dom Bosco. Afinal eram seus filhos que iriam levar a vida do Oratório para essas plagas distantes. Eram muito fortes os laços afetivos que uniam Dom Bosco aos missionários. Mesmo de longe, não deixava de segui-los e apoiá-los e tinha grande certeza que de que fariam tudo como tinham aprendido e estariam sempre abertos e atentos às suas orientações. Com efeito. Uma carta pessoal de Dom Bosco era pelos missionários considerada um dom precioso, que lhes dava força para continuar em descanso o trabalho de evangelização (cf. MB XV, 24, 30-31). Podemos interrogar-nos qual o campo missionário que Dom Bosco discerniu em seus sonhos. Vemos que há uma progressão desde o sonho sobre a Patagônia. A princípio, lhe são mostradas as missões da Patagônia. A seguir, em 1883, o campo missionário se alarga a toda a América do Sul.

Finalmente, em 1886, com o sonho de Santiago a Pequim
No campo missionário Salesiano se estende por todo o mundo. A abertura de missões foi para a Congregação Salesiana um passo que muito contribuiu para sua consolidação. Segundo Pietro Stella, “talvez aí se manifesta um dos aspectos mais característicos de Dom Bosco: a sua capacidade (por intuição ou reflexão) em saber não somente escolher as forças que lhe estejam facilmente acessíveis, mas escolher também os lugares onde aplicar essas forças, os momentos propícios com a garantia de um sucesso previsto” (Pietro STELLA, Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, I, p. 185).

 

Padre Antônio da Silva Ferreira, SDB, é pedagogo, professor e autor de diversos escritos na área pedagógica. Nos últimos anos, voltou-se prioritariamente para a área da história da Congregação Salesiana e da vida de Dom Bosco. Entre seus livros publicados recentemente estão: Não basta amar e Acima e além: os sonhos de Dom Bosco, ambos pela Editora Salesiana.
Fonte Internet: http://www.boletimsalesiano.org.br/10

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